Na década de 70 começou
a se popularizar a presença de animais domésticos junto às pessoas com o
objetivo de conseguir benefícios terapêuticos.
A utilização de animais , no entanto, já havia sido descrita em1792, na
Inglaterra, em um hospital psiquiátrico chamado de Retiro de York, fundado por
William Tuke. Lá, eram utilizados animais de pequeno porte que interagiam com
pacientes vítimas de esquizofrenia, o que segundo Tuke, deixava aflorar nos
pacientes sentimentos socializadores. Na Alemanha, em 1867, animais de
companhia foram utilizados com coterapeutas no tratamento de pacientes com
epilepsia. Ainda hoje, animais vem sendo utilizados nesse local como
participantes no tratamento de pacientes com transtornos físicos e mentais. Foi
na reabilitação de aviadores da Air Force Convalescent em Pawling ,Nova York,
nos anos de 1944 e 45 que a terapia assistida por animais
foi melhor documentada. Nesse programa, patrocinado pela Cruz Vermelha,os
animais eram utilizados para acompanhar os aviadores, na tentativa de diminuir o
estresse provocado pelos longos tratamentos terapêuticos. Em relação a
historiografia sobre o tema, não pode ser esquecida a participação de Jingles, o cachorro do Dr. Boris Levinson. Em
1953, durante uma consulta de uma criança com problemas de socialização, por
acaso, seu cão entrou no consultório. A partir daí, com a participação de
Jingles nas sessões e através da transferência de afeto, o Dr. Levinson
consegui tratar o paciente, atribuindo parte do mérito da reabilitação do
menino à presença do cão como coterapeuta. No livro de sua autoria, intitulado
Psicoterapia Infantil Assistida Por Animais, o médico relata as experiências
vivenciadas no consultório onde o cão Jingles favorecia a aproximação e
comunicação com seus pacientes.
Quando se busca
definições sobre o tema, surgem inúmeras, bem como diferentes nomes para o
mesmo assunto: terapia com mascotas, na língua espanhola, terapia assistida com
animais, zooterapia, terapia com animais de companhia, entre outras. Com o
objetivo de estandardizar a terminologia a Delta Society, reconhecida
mundialmente nas questões que envolvem animais e benefícios terapêuticos propôs
como definições:
Terapia Assistida com
Animais (TAA):
uma intervenção com objetivo definido, em que o animal obedece a critérios
específicos para ser uma parte integrante do processo de tratamento. A TAA é
dirigida e / ou executada por profissionais da área de saúde com conhecimento especializado
na sua área de atuação. O objetivo da TAA é promover a funcionalidade física,
emocional e cognitiva do indivíduo. Nessa terapia o animal será uma parte
integrante do tratamento. Este processo deverá ser documentado e avaliado
cientificamente, ou seja,existe uma meta e o progresso do paciente é mensurado e
documentado.
Atividades Assistida
por animais (AAA):são
aquelas que promovem oportunidades de motivação, educação,recreação e / ou
benefícios terapêuticos para melhorar a qualidade de vida de indivíduos. Estas
atividades são realizadas em uma variedade de ambientes por treinadores
profissionais,técnicos ou voluntários em associação com animais que atendam critérios
específicos, não havendo necessidade de acompanhamento por profissionais da
área da saúde. Alguns autores ainda subdividem essa área em mais uma,
denominada de Educação Assistida por Animais (EAA) onde se desenvolve uma
prática educativa na qual o animal contribui com o educador no processo de
ensino aprendizagem, uma vez que os animais tornam-se uma influencia motivadora no
avanço da qualidade e desenvolvimento da aprendizagem.
Dessa forma, as duas
definições diferem em relação aos objetivos específicos, em relação a
metodologia utilizada mas tem em comum o objetivo geral que é a busca pelo
bem-estar do indivíduo.
Muito difundido em
outros países, o Brasil ainda engatinha na utilização de animais como coterapeutas
e/ou facilitadores. Muito do que já foi realizado dependeu mais da vontade e
interesse de pessoas que viam na proposta a possibilidade de uma nova área de
atuação com resultados positivos para pessoas com problemas físicos ou
emocionais.
Mais recentemente,
com a difusão dos resultados positivos, a TAA tem entrado na discussão politica
brasileira, com a presença de propostas que objetivam coloca-la como atividade
corrente em hospitais, inclusive aqueles assistidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
Sobre o assunto,
existe também a questão que envolve o bem-estar do animal que será utilizado.
Muitas espécies são utilizadas, mas o cão é de longe o animal mais escolhido. A
seleção deve ser criteriosa, pois nem todos os cães se adaptam a atividade, que
deve também ser prazerosa para o animal. Trabalho científico realizado por
Yamamoto, em 2012, na cidade de Araçatuba/SP, avaliou nove cães terapeutas para
a verificação de estresse durante suas atividades. Foi demonstrado que os
animais não apresentaram desconforto que afetasse a saúde e bem-estar. Em um
projeto onde eu estava envolvida, junto com o colega, Dr. Luiz Antonio Scotti,
introduzimos um cão e um coelho na unidade pediátrica de um hospital da região
metropolitana de Porto Alegre. Foram necessários dois meses e avaliados 120
cães provenientes de uma ONG de proteção animal para finalizar a escolha. O
animal escolhido foi uma fêmea que apresentava expressão corporal tranquila e
relaxada, possuía uma boa posição hierárquica no grande grupo e não apresentava
sinais de agressividade para com os cães doentes e de menor expressão no canil.
O animal foi adestrado durante quatro meses com os comandos básicos. O manejo
sanitário deve ser diferenciado, já que o animal entrará em contato com pessoas
com baixa imunidade. No caso específico, o cão recebia vacinações estratégicas
contra doenças infectocontagiosas, vermifugação a cada três meses, além de
exames complementares que eram realizados mensalmente. O manejo dos banhos era
diferenciado, e ministrados com maior frequência. Em relação ao coelho, escolhido
da raça Gigante de Flandres, recebia manejo sanitário também diferenciado. As visitas ao setor pediátrico eram
realizadas semanalmente. Os relatos dos médicos, profissionais de enfermagem e
familiares dos pacientes davam conta que as visitas eram esperadas com grande
ansiedade pelas crianças e que estas se mostravam mais felizes e aceitavam
melhor os tratamentos mais invasivos.
Muito ainda existe
para se realizar nessa área. Estudos mais acurados com a publicidade de
resultados serão bem vindos para comprovar o que na prática já vem se
demostrando. A relação entre homem e animal e seu potencial terapêutico.
Publicado sob o título "Animais como facilitadores na busca pela saúde e bem-estar humano", em: A Hora Veterinária – Ano 33, nº 199, maio/junho/2014.